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Laudo de Fumigação em Matérias-Primas: O Que os Gestores Precisam Conhecer para uma Avaliação Efetiva



Este post é destinado aos gestores e coordenadores da qualidade das fábricas de alimentos, mas também será muito útil para as empresas de controle de pragas que realizam fumigação com fosfina.


Como sempre, adoto uma abordagem técnica, pois entendo a importância de compreender o porquê das coisas. Ao entender o motivo, o método se justifica, o que resulta em maior aderência e engajamento por parte das equipes envolvidas no processo.


Acredito que a maioria das fábricas de alimentos tenha procedimentos e checklists para verificar a matéria-prima que chega aos armazéns, pronta para ser utilizada na produção.

Esses procedimentos são essenciais, considerando a variedade de produtos empregados pelas fábricas.


Também acredito que boa parte da matéria-prima seja fumigada (com fosfina) pelos fornecedores.


Em uma fábrica de alimentos, muitos tipos de produtos são suscetíveis ao ataque de insetos, sendo fundamental que o fornecedor garanta que o produto tenha sido tratado contra essas pragas, conforme estipulado em um bom contrato.


É aqui que este post pode te ajudar. Continue comigo.


Gestor ou Coordenador da Qualidade, já se deparou com as seguintes perguntas:


1. A fumigação da matéria-prima garante que o produto esteja livre de insetos?


2. Quais critérios e parâmetros deveriam ser utilizados para avaliar a eficácia da fumigação?


3. Você sabe como analisar um Certificado de Fumigação entregue pelo fornecedor para o produto comprado?


4. Como saber se os requisitos do expurgo foram adequadamente seguidos para considerar o trabalho de fumigação eficaz?


5. Mesmo que o certificado de fumigação esteja em conformidade com as práticas adequadas, é possível que ovos de insetos ainda estejam viáveis no produto comprado?


Antes de obter as respostas, há alguns conceitos que você deve aprender para entender o que vem a seguir.


A fumigação com gás fosfina ou fosfeto de hidrogênio (PH3) é, indiscutivelmente, o tratamento mais utilizado para a proteção de grãos armazenados e diversas outras mercadorias contra insetos pragas.


A fosfina é um gás extremamente tóxico para todas as formas de vida aeróbica, ou seja, aquelas que utilizam o oxigênio para obter energia e sobreviver. Ela é formada pela reação do fosfeto de alumínio ou fosfeto de magnésio com a umidade do ar.



Característica da fosfina (PH3):

  • É gasosa acima de -88oC.

  • Tem densidade 1,17 vezes a do ar, ou seja, é mais pesada que o ar.

  • O fosfeto de alumínio ou magnésio não é inflamável, porém pode se inflamar por autoignição se a reação de liberação da fosfina for muito rápida e a concentração do gás atingir 27,1 g/m3.

  • É altamente tóxica para organismos de respiração aeróbica, mas não para organismos anaeróbicos ou metabolicamente inativos, portanto, podem ser utilizados para insetos, sem afetar a viabilidade dos grãos (umidade abaixo de 11%).

  • Fácil aplicação, baixo custo, alta eficácia no controle de insetos.


Para que a fumigação seja eficiente, é preciso que uma coisa aconteça:

  • Os insetos fiquem expostos por um tempo mínimo à dose letal.


Para alcançar esse único objetivo, três fatores são importantes:

  • Calcular a dose correta de acordo com o volume tratado.

  • Evitar perdas de gás para que a concentração não diminua no tempo desejado.

  • Manter a fumigação em andamento pelo tempo necessário para matar os insetos.


Normalmente, esses três fatores são abordados pelos manuais como: dosagem, hermeticidade e tempo de tratamento.


Há uma série de cuidados que devem ser observados durante a aplicação deste produto para evitar acidentes graves, como intoxicação em pessoas, explosões devido ao molhamento e garantir a temperatura ambiente adequada para que haja a reação do produto e a dispersão adequada do gás fosfina. No entanto, esse assunto será abordado em outro post. Vamos continuar com o tema proposto inicialmente.


Uma das principais razões para falhas nas fumigações é a falta de condições herméticas adequadas:

  • lonas furadas;

  • lonas de plástico inapropriadas para expurgo (o gás atravessa a lona)

  • pisos irregulares ou porosos;

  • contêineres com vazamentos no assoalho ou nas portas ou respiros não vedados;

  • cobras de areia insuficiente para fazer uma boa vedação da lona que toca o piso.


Enfim, esses são alguns exemplos de falhas que comprometem a vedação necessária para a fumigação eficaz.


Como consequência, há vazamento do gás fosfina, ocasionando uma dosagem inadequada para eliminar os insetos. É crucial destacar que a concentração deve permanecer acima de 400 ppm por no mínimo 5 dias. Ademais, para determinadas espécies de insetos, é preciso estender o período de fumigação, podendo alcançar 10 dias ou mais.


Outro aspecto relevante é que simplesmente aumentar a concentração não permite reduzir o tempo de fumigação. Esse intervalo é crucial para que o gás se distribua por todo o ambiente, tanto sob a lona quanto dentro do contêiner, alcançando os 400 ppm necessários dentro das embalagens para erradicar os insetos. Aumentar a concentração não acelera esse processo. Portanto, diminuir o tempo de fumigação representa um equívoco sério que compromete a eficácia do tratamento.


Além disso, diversos insetos entram em estado de narcose quando percebem o rápido aumento da concentração do gás inseticida. A narcose é um estado em que o inseto experimenta uma drástica redução na respiração e na atividade metabólica. Como mencionado, a fosfina só tem efeito se houver troca de oxigênio e atividade metabólica. Portanto, no estado de narcose, os insetos permanecem vivos apesar da presença de fosfina.


Veja no gráfico abaixo, que o fosfeto de alumínio ou magnésio leva pelo menos 2 dias para reagir 100%. Depois disso, haverá necessidade de um tempo para o gás se espalhar pelo ambiente e penetrar nas embalagens. Então, se precisamos de pelo menos 5 dias de concentração acima de 400 ppm, muito provavelmente nas primeiras 24 horas não teremos atingido esse patamar, o que significa que uma fumigação deveria levar pelo menos 6 dias no total para ser eficiente.



Um último aspecto importante é realizar o tratamento do ambiente por meio de pulverização e/ou atomização com inseticida residual no local onde a fumigação está ocorrendo. Isso é essencial para evitar a migração de insetos do ambiente para os produtos tratados ao remover a lona ou expor os produtos fumigados. É fundamental lembrar que a fosfina não deixa resíduos nos produtos após a fumigação.


Depois de todos esses conceitos e explicações temos o embasamento para responder as questões propostas.


1.     A fumigação da matéria-prima garante que o produto esteja livre de insetos?

R: Não, se a fumigação foi realizada, porém não manteve a concentração do gás fosfina acima de 400 ppm pelo tempo mínimo necessário, então há o risco de o tratamento ter sido ineficaz.


2.     Quais critérios e parâmetros deveriam ser utilizados para avaliar a eficácia da fumigação?

R: Essa resposta já aborda o questionamento seguinte - é necessário verificar no Certificado de Fumigação o tipo de produto utilizado, a dosagem e o tempo de fumigação, e comparar essas informações com a bula do produto. Se algum desses aspectos não foi respeitado, então há o risco de o tratamento ter sido ineficaz.


3.     Você sabe como analisar um Certificado de Fumigação entregue pelo fornecedor para o produto comprado?

R: Ver resposta anterior.


4.     Como saber se os requisitos do expurgo foram adequadamente seguidos para considerar o trabalho de fumigação eficaz?

R: Aqui está a fragilidade do sistema. Como podemos ter certeza de que a fumigação realmente atende a todos os cuidados de vedação que mencionamos: lonas intactas, piso regular e não poroso, cordões de areia selando completamente a saia da lona, dosagem verdadeiramente adequada e tempo de fumigação suficiente? Aqui, é crucial uma relação de confiança e parceria entre a empresa contratada e o contratante. Sem ética nessa relação, não há base para a colaboração. No entanto, se os problemas persistirem, é válido considerar uma auditoria do fornecedor e avaliar os procedimentos adotados pela empresa responsável pela fumigação.


5.     Mesmo que o certificado de fumigação esteja em conformidade com as práticas adequadas, é possível que ovos de insetos ainda estejam viáveis no produto comprado?

Sim, é possível. As fases de ovo e pupa são as mais desafiadoras de controlar, pois apresentam uma atividade metabólica e respiratória muito baixa, especialmente nos ovos recém-colocados. Sem trocas gasosas, a fosfina não tem efeito inseticida, portanto, em muitos casos, é aconselhável estender o tempo de fumigação para garantir que a fase de ovo ou pupa seja totalmente concluída. Geralmente, a fase de ovo dos carunchos e traças dura entre 4 e 6 dias, enquanto a fase de pupa pode durar mais. Se a fumigação estiver em curso quando as larvas eclodirem dos ovos ou quando os adultos eclodirem das pupas, teremos sucesso no controle, pois as fases de larva e adultos são muito mais vulneráveis à ação da fosfina.


Posso auxiliá-lo em diversos aspectos:

  • Calcular as doses adequadas de produtos para expurgo com lonas e contêineres.

  • Avaliar os procedimentos de fumigação adotados pelo seu fornecedor.

  • Realizar auditorias nos fornecedores e supervisionar fumigações com lonas e contêineres.

  • Oferecer treinamentos teóricos e práticos sobre fumigação com fosfina usando lonas e contêineres.

  • Orientar sobre os tipos de insetos e o tempo necessário de fumigação para controle das pragas-alvo.

 

Eu posso ajudá-los com melhorias na gestão do controle de pragas.

 

Tecpest

Gestão em Controle de Pragas Urbanas

 

Ricardo B. Gattás

Engº Agrônomo especialista em Entomologista Urbana.

Consultor Técnico em Controle de Pragas Urbanas.

 

Toda semana publicarei um texto sobre Controle de Pragas Urbanas. Você pode ver esse e outros artigos no meu site: tecpest.com


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