Eliminar abelhas ou ampliar visão: a diferença entre apagar incêndios e liderar com propósito
- Ricardo Gattas
- 23 de abr.
- 2 min de leitura

Nem toda urgência é, de fato, uma emergência. E nem toda solução rápida é sinônimo de decisão inteligente.
Em mais de 15 anos atuando com controle de pragas em indústrias alimentícias, vi muitas decisões serem tomadas no impulso do “resolve isso agora” — decisões que resolviam um problema, mas criavam outros.
Eliminar um enxame de abelhas, por exemplo, pode parecer uma ação eficiente. Mas será mesmo a melhor escolha?
Gestores da qualidade ou do meio ambiente solicitando a eliminação imediata de enxames de abelhas — sem avaliar os impactos, as causas ou as alternativas disponíveis.
Veja a incoerência: muitas dessas indústrias contratam apicultores para instalar colmeias em lavouras e aumentar a produtividade agrícola. Mas, quando abelhas aparecem no ambiente fabril, a primeira reação é eliminá-las.
Não seria mais coerente estender essa parceria para o ambiente industrial, com estratégias de manejo mais inteligentes e sustentáveis?
Já existem práticas simples e eficazes: instalação de caixas atrativas no entorno da fábrica, isolamento provisório da área com sinalização adequada, ou mesmo ajustes nos horários de produção — como fez uma indústria de iogurtes ao transferir o uso de mel para o turno da noite, período em que as abelhas estão recolhidas. Resultado: risco eliminado sem exterminar uma única colmeia.
É claro que existem situações que exigem uma ação imediata por conta do risco iminente. Mas transformar exceções em regra pode ser um sinal de despreparo, não de liderança.
Na maioria das vezes, não falta recurso — falta reflexão.
Decisões pautadas no imediatismo ferem o bom senso, a lógica e, muitas vezes, os próprios valores que a empresa divulga em seus programas de sustentabilidade.
É sobre isso que trata o livro “Rápido e Devagar: duas formas de pensar”, de Daniel Kahneman.
Nele, o autor explica que usamos dois sistemas para pensar:
O Sistema 1, rápido, automático, intuitivo e emocional — ideal para reações cotidianas, mas propenso a erros e vieses.
E o Sistema 2, mais lento, analítico e racional — que demanda energia e tempo, mas nos conduz a decisões mais sensatas e estruturadas.
A maioria das decisões equivocadas que presenciei nas fábricas veio do Sistema 1: uma resposta imediata, não uma solução inteligente.
Caro Gestor, eu sei que você pode mais:
Pode ir além da reação. Pode liderar com visão sistêmica.
Pode fazer perguntas antes de buscar respostas.
Pode ser coerente com os compromissos que a empresa já assumiu.
Se quiser trocar ideias sobre esse tema ou estiver lidando com um desafio semelhante, conte comigo.
Não cobro por uma conversa — e é sempre um prazer contribuir para decisões mais conscientes e sustentáveis.
Porque toda grande mudança começa assim: com uma boa pergunta.
Fica aqui a provocação:
Você está resolvendo o problema ou apenas reagindo a ele?

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